Lembro-me que meus pais não eram religiosos. Meus avôs eram, quase todos eles acredito. Nordestinos, paternos de Pernambuco e maternos do Piauí, região onde a religião é intensa. Meus pais vieram muito cedo para o sudeste. Minha mãe veio morar com uma tia no Rio de Janeiro e a família de meu pai foi morar no Paraná quando ele também era muito criança, embora a mudança não tivesse extirpado a fé de minha avó paterna. Misteriosamente, essas raízes religiosas não foram passadas para meus progenitores e eu tive bastante liberdade nessa área. Quando criança, freqüentava algumas vezes as missas de domingo, sem jamais prestar atenção em uma só palavra do padre... anos depois, fiz catecismo, participei do grupo de coroinhas, mas que fique claro que nunca foi por fé ou por ser temente à Deus. Não!... Mas também não era completo descrente, como hoje. Minhas únicas intenções eram sociais... Ninguém me obrigou a participar de catecismo ou grupo de coroinhas; eu fui porque queria... conhecer gente...
Anos, depois, quando minha mente amadureceu, percebi que os ensinos do Catolicismo eram, se não contraditórios, pelo menos incompletos. Felizmente - ou infelizmente - foi quando conheci o Espiritismo. O mundo espiritual passou a fazer mais sentido. Não completo, apenas mais sentido. Muitas coisas ainda pareciam ilógicas e minha mente não conseguia explicar, mesmo dentro dos conceitos do próprio espiritismo. Até o ponto em que tentei organizar minhas próprias idéias. E quanto mais eu tentava, mais hipócrita/confuso as coisas ficavam.
Preciso lembrar, que uma das minhas memórias mais vívidas da infância, foi a primeira vez que me deparei com um imã. Sim, um simples imã! Fiquei tão fascinado por aquele pequeno pedaço de pedra que puxava outro pedaço de pedra e até mesmo moedas e parafusos. Era quase mágica. Por algum motivo - quase tão misterioso quanto a falta de comprometimento com a religião de meus pais - eu sabia que não era mágica, mesmo tendo uma inclinação quase patológica para a ficção e fantasia. Meu pai, então, me explicou o que acontecia de verdade. Claro que não entendi bulhufas do que ele me explicou, mas mais tarde, lá pelos meus dez anos, entendi os fundamentos do magnetismo. Também lembro que, quando cheguei na oitava série, mal podia esperar pra aprender química e entender como a matéria se formava.
Hoje sei que, instintivamente, eu podia - e ainda posso confiar - na ciência e razão. E usando essa mesma confiança na razão, ao longo do tempo, percebi que não podia confiar em nada do que as religiões pregam. Nada! De agnóstico independente cheguei ao ateísmo absoluto, que é onde estou hoje. Os conceitos confusos de Deus que eu tentava entender, se revelaram ou mesquinhos ou ilógicos demais. Com o apoio da ciência entendi que Deus era só mais uma ferramenta política e que tudo ao seu redor é fruto ou da maldade dos homens ou então de seu medo da morte. Que o anacronismo de certas idéias religiosas só eram (são) superados pela ignorância das pessoas que as fizeram e as defendem. Aprendi que a religião não pode coexistir com a ciência nem pacificamente, porque, enquanto a primeira se acomoda com a pífia explicação de que "Deus quer", a segunda se inquieta e se rebela até achar a resposta.
Hoje, faço jus ao cérebro pensante que "Deus me deu" (sacou a ironia?)
Mas, mesmo feliz, contente e satisfeito com meu ateísmo racional, também sei que a ciência pode errar. Reformulando: também sei que às vezes certos conceitos científicos podem estar errados. E se a ciência, se o pensamento racional e analítico podem errar, o que dirá de mim, pobre mortal, cujo QI provavelmente não chega aos 80 pontos?...
Melodrama a parte, um dia desses a idéia de estar errado realmente me assombrou.
"Já imaginou se, tudo o que esses malucos e fanáticos religiosos defendem, for verdade? Que existe um céu e um inferno maligno desenhado sadicamente para punir assassinos, estupradores, pederastas, hereges e tudo mais?! Já pensou se realmente existe um Deus egoísta, ciumento e intolerante que nem de longe remete os nosso conceitos humanos de compaixão? Um Deus que puniria você e eu por não 'rezarmos' 100 Ave Marias por dia? " Longe de mim viver como o covarde do Pascal, com sua
apostinha covarde. Se realmente existe um Deus, ele provavelmente me recompensaria - ou abrandaria minha pena no inferno - por pensar por mim ao invés de aceitar imprudentemente qualquer coisa que qualquer um fale. A idéia de existir Deus em si não me assombra. Na verdade, nada pode me assombrar porque minha "fé" é inabalável. Apenas não posso me deixar de perguntar: e se eu estiver errado?...
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ps¹.: voltas e mais voltas pra falar de porra nenhuma.... éh... bem... vocês me conhecem...
ps².: não, eu não acredito que religião sirva pra mais nada além de controle de massas e enriquecimento de poucos espertalhões. Embora "acreditar" demande um certo nível de incerteza... Não! Eu sei!
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Governar, acorrentando a mente
através do medo da punição em outro mundo
é tão baixo quanto usar a força