quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
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domingo, 12 de dezembro de 2010
Um Estado Dito Laico - Parte II
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
O Maior Medo da Tirania
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Gêmeas
De uma hora para a outra elas se tornaram tudo para nós. Não havia mundo exterior que não se ligasse à elas. Chegaram de supetão, de repente. É difícil chamar “sete meses” de “de repente”, mas, mesmo a espera não foi suficiente para nos preparar adequadamente para o que estava por vir. Nessas ocasiões, você só acredita no que está acontecendo quando finalmente acontece. Assim, de uma hora para outra, elas se tornaram o único motivo de nossa existência, seqüestradoras absolutas, irredutíveis e implacáveis de nossa atenção e sentimento. Pequenas mãozinhas, pequenos pezinhos, pequenos grunhidos, olhinhos espremidos e uma fragilidade aterradora. Em contraste a tudo isso, uma fome enorme, um choro potente, uma disposição elétrica, digna de seres adultos. E no nosso caso tudo isso veio em dobro.
Tão logo voltamos para casa, a visita dos amigos se tornou constante. Era engraçado perceber a atenção tão peculiar, quase religiosa ao se falar perto delas; o respeito pelo sono delicado das duas. Mas afinal, quando elas não estavam dormindo?...
Outro fato curioso era a habilidade que os bebês têm de infantilizar os adultos. Vozes engraçadas, gestos frenéticos, conversas sem sentido. A retribuição delas era aquele olhar de indiferença, quase condenatório e severo, como se não houvesse qualquer interesse no que a roda de adultos tentava conversar com elas.
As amigas que já eram mães davam conselhos à mãe de primeira viajem; as amigas que ainda não eram mães treinavam para quando fosse a vez delas. Os amigos que já eram pais se empenhavam em salientar as diversas inconveniências e responsabilidades da paternidade com um ar de sabedoria milenar; os amigos que ainda não eram pais, rejeitavam qualquer possibilidade vindoura de arrumarem um par como o nosso, ou mesmo uma simples e solitária unidade, mas podíamos perceber uma nota inconfessa de inveja em suas palavras.
Idas as visitas, sobrava o silêncio celestial, contemplativo. Nós dois, abraçados à beira do berço, observando o sono inocente da das duas, vislumbrando planos vindouros como batizados, festinhas, formaturas e toda sorte de boas esperanças. Ou esperanças de boa sorte?