quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

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Encerrei o ano passado fazendo um voto de que os acontecimentos ruins de 2009 não nos seguissem à 2010. Inutilmente, claro. Barbaridades e atrocidades dos mais variados graus se repetiram este ano. Mas vou me render às tentações humanas e ter fé e fazer um novo voto no fim deste ano que se aproxima.

Que 2011 seja o ano da conscientização política, do amadurecimento social, do interesse público pelo que é público, porque, afinal, 2012 é (de novo) ano de eleição. Que as autoridades sejam menos negligentes e não deixem sua população construir em áreas de risco; e que as pessoas aprendam a ter educação e não joguem lixo nas ruas. Espero que, em 2011, as pessoas recuperem a consciência e se toquem, recuperem o gosto e o senso musical e percebam que Restart dificilmente é a melhor banda do ano. Se, de um lado, goleiros e jogadores de futebol tem que aprender a seguir regras e leis, do outro a mídia tem que aprender a ser menos exaustiva e se limitar ao seu lugar de informar e não investigar crimes e condenar suspeitos. Que os jovens sejam menos intolerantes e preconceituosos, seja contra homossexuais, nordestinos, palestinos, pobres, ricos ou qualquer outra classe. Que a Igreja crie vergonha na cara e pare de acobertar padres pedófilos. Desejo que em 2011 a religião pare de se meter onde não é chamada, pare de dar pitaco na política.

E, principalmente, que mães irresponsáveis não joguem seus filhos fora, como se fosse lixo. Ainda mais no quintal do vizinho.

Feliz 2011

domingo, 12 de dezembro de 2010

Um Estado Dito Laico - Parte II

Queria eu estar mais atento a certas coisas que acontecem diariamente no mundo. Infelizmente deixei essa passar.

A ATEA (Associassão Brasileira de Ateus e Agnósticos) decidiu fazer uma das campanhas publicitárias mais interessantes que tive o prazer de por os olhos. Não por ser ateu - ok isso também - mas pela inteligência. Essa é uma daquelas ocasiões em que mostrar é melhor do que falar (no caso, escrever).



É uma campanha agressiva. Não que haja elementos ou termos agressivos nas mensagens, mas porque no Brasil, falar em religião - principalmente ateísmo - é assunto proibido, indiscutível. Vale a máxima: cada um na sua. Esse é exatamente o "x" da questão: não há espaço para se discutir a crença religiosa como um fato social, existe apenas a concepção de que cada um deve viver a vida e sua religião como lhe foi ensinado, sem questionar ou debater.

Ok, até aí nenhuma novidade.

A genial campanha será lançada agora, no dia 13 de dezembro, em Porto Alegre e Salvador, e será veiculada em ônibus públicos. A ATEA chegou a assinar contrato com uma empresa de mídia para que a campanha acontecesse em São Paulo, mas a empresa se recusou a levá-la a adiante pois ela feriria uma lei municipal que proíbe campanhas que estimulem ofensas religiosas - ou algo do tipo. Na minha opinião, dentro da concepção de que religião é particular de cada um, nada mais justo que a campanha fosse vetada. Mas veja o contra-senso: existem em todos os lados campanhas que estimulam a crença em várias religiões, atividades, reuniões, celebrações cultos e um sem-número de outros eventos de cunho religioso e ninguém diz nada, ninguém proíbe, ninguém questiona! Por que não colocar uma campanha em favor dos ateus? Por que não, num Estado que se diz laico e que respeita a liberdade religiosa? O Estado pode até respeitar, mas a sociedade que o constitui não admite esse tipo de liberdade.

Os ateus são a última minoria do mundo.

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ps.: no Site da ATEA você encontra a explicação completa e mais detalhada da campanha e outros links para os desdobramentos e repercussões que o assunto trouxe. Basta clicar aqui.

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Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

[Chico Buarque - Deus Lhe Pague]

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O Maior Medo da Tirania




É espantoso assistir ou ler o noticiário mundial e perceber que no alvorecer do século XXI ainda existam grandes tiranias. E o pior de tudo, elas ainda têm forças e resistem bravamente em seus pensamentos dito evoluídos. Não falo da Coréia do Norte, aquela "paiseco" cujo único trunfo é o desenvolvimento de armas atômicas. Também não falo do reino encantado do Ditador Fidel, aquela Cuba maravilhosa e socialista que está a dois passos da miséria - é fácil não ser uma sociedade consumista quando não há o que se consumir.

O que falo é do poder que ainda tem a tirania da República Popular da China. Certamente o crescimento econômico de 10% ao ano lhe subiu a cabeça. Aliás, fato curioso, é fácil crescer economicamente sem respeitar diversas leis ambientais, tendo a plataforma energética mais poluída do mundo, um governo autoritário, de partido único, censura para todos os lados. É fácil governar e crescer quando não há ninguém para se opor a você. Por isso as mornárquias absolutistas da França foram tão bem sucedidas em jogar o povo na miséria enquanto sustentava o luxo da corte. Talvez, com olho nessa história,a China tenha tanto medo da uma Queda da Bastilha Oriental e trata sua população com rédeas tão curtas.

Por exemplo, Liu Xiaobo, um dissidente chinês, condenado a 11 anos de prisão por defender a abertura democrática da China e nomeado ao Nobel da Paz deste ano. Ele é estranhamente mais conhecido no mundo do que em seu próprio país. Quase nenhum de seus conterrâneos sabem quem ele é, o que ele fez, se está ou não preso. Por quê? Porque não interessa a China que sua população saiba que há pessoas lutam pela liberdade de seu povo. Não interessa à China revelar a pressão estrangeira, a premiação do Nobel da Paz. Não interessa nem se fazer de desentendida. Isso seria admitir o erro - que eles não acham que seja erro.

Aí é que está o problema. Se não há problema algum com o modo de governar chinês, porque tanto medo de um simples prêmio, de um único homem, da democracia de uma forma geral? Se o jeito comunista da tão certo quanto os números demonstram, porque essa agressividade frente a liberdade democrática, da informação? Por que há todos os problemas. O maior medo de uma tirania é o poder de escolha do povo que há oprime; porque, a partir do momento em que o povo ganhar a consciência do poder que tem, a tirania vai a ruína e aqueles que detêm o poder não terão mais nada. Uma tirania não suporta opiniões multilaterais por isso silencia todos aqueles que são contra ela e aliena aqueles que estão sob sua influência.

A China pode até ser o país que mais deu certo nas últimas décadas e ter muito a que ensinar a países ocidentais como Brasil ou até mesmo os Estados Unidos. Mas o que as pessoas têm que se perguntar é: a que custo a China cresceu tanto? Da liberdade de opinião, da liberdade de ir e vir, da liberdade de escolher? Da Liberdade?

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Gêmeas


De uma hora para a outra elas se tornaram tudo para nós. Não havia mundo exterior que não se ligasse à elas. Chegaram de supetão, de repente. É difícil chamar “sete meses” de “de repente”, mas, mesmo a espera não foi suficiente para nos preparar adequadamente para o que estava por vir. Nessas ocasiões, você só acredita no que está acontecendo quando finalmente acontece. Assim, de uma hora para outra, elas se tornaram o único motivo de nossa existência, seqüestradoras absolutas, irredutíveis e implacáveis de nossa atenção e sentimento. Pequenas mãozinhas, pequenos pezinhos, pequenos grunhidos, olhinhos espremidos e uma fragilidade aterradora. Em contraste a tudo isso, uma fome enorme, um choro potente, uma disposição elétrica, digna de seres adultos. E no nosso caso tudo isso veio em dobro.

Tão logo voltamos para casa, a visita dos amigos se tornou constante. Era engraçado perceber a atenção tão peculiar, quase religiosa ao se falar perto delas; o respeito pelo sono delicado das duas. Mas afinal, quando elas não estavam dormindo?...

Outro fato curioso era a habilidade que os bebês têm de infantilizar os adultos. Vozes engraçadas, gestos frenéticos, conversas sem sentido. A retribuição delas era aquele olhar de indiferença, quase condenatório e severo, como se não houvesse qualquer interesse no que a roda de adultos tentava conversar com elas.

As amigas que já eram mães davam conselhos à mãe de primeira viajem; as amigas que ainda não eram mães treinavam para quando fosse a vez delas. Os amigos que já eram pais se empenhavam em salientar as diversas inconveniências e responsabilidades da paternidade com um ar de sabedoria milenar; os amigos que ainda não eram pais, rejeitavam qualquer possibilidade vindoura de arrumarem um par como o nosso, ou mesmo uma simples e solitária unidade, mas podíamos perceber uma nota inconfessa de inveja em suas palavras.

Idas as visitas, sobrava o silêncio celestial, contemplativo. Nós dois, abraçados à beira do berço, observando o sono inocente da das duas, vislumbrando planos vindouros como batizados, festinhas, formaturas e toda sorte de boas esperanças. Ou esperanças de boa sorte?