Sou da opinião que o capitalismo não é fútil (muito pelo contrário). Existem particularidades do capitalismo que são fúteis. Por exemplo: a publicidade.
Veja que a publicidade é a ferramenta do marketing (ou vice-versa; não importa para minha linha de argumentos neste instante) que leva a imagem de um produto aos consumidores. Também serve como reforço de marca, mas principalmente para apresentar alguma coisa. O interessante é que a publicidade não pode ser enganosa, prometer algo que o produto não pode fazer; no entanto, se você analisar bem, (quase) toda publicidade é enganosa, pois, embora não possam exagerar as capacidades do produto, exageram em certas qualidades, como por exemplo, fazer você pensar que, ao usar determinado creme você vai perder vinte anos de rugas e parecer uma adolescente. Claro que o anunciante pode afirmar uma coisa dessas, mas é mais ou menos essa a idéia que ele quer que você tenha. Ou ainda, quando criam uma campanha que “inclua” você na “família” da empresa ou "como parte fundamental” da empresa, estão também mentindo, porque, afinal, a menos que a sua carteira de trabalho seja assinada pelo RH deles, você é apenas mais um consumidor; e a empresa quer que você pense que você é algo maior do que não é.
A publicidade é essa terra de fantasia, essa Disney World que ilude você para a realidade do consumo. E pra isso já usou e ainda usa diversos recursos. Alguns bons, outros ruins. Mas todos em favor da ilusão do consumo.
E mais um nessa lista de recursos para te enganar caro consumidor, estão surgindo as agências especializadas numa coisa conhecida como “marketing de sensações”. O que é isso? O verdadeiro motivo do meu post?
“Marketing de sensações” ou qualquer outro nome parecido são ações publicitárias focalizadas em associar uma marca a uma sensação física sensorial (olfato, paladar, audição e tato). É uma das maiores sacadas da publicidade nos últimos tempos pois essas reações sensoriais se ligam muito fortemente às memórias que formamos e guardamos ao longo da vida. Por exemplo, a memória olfativa é a mais poderosa dos nossos cinco sentidos, é capaz de recuperar lembranças com mais facilidade do que os outros. É o que acontece por exemplo, quando você sente cheiro de torta de maçã, por exemplo, e se lembra da sua infância na casa da sua avô que fazia sempre a melhor torta de maça que você já comeu.
Desse modo, ao associar alguma memória sensorial sua à uma marca, quando você experimentar aquela sensação outra vez, vai lembrar quase que imediatamente da marca, não importa onde esteja - partindo do pressuposto óbvio de que vão usar boas sensações…
Meu problema com isso? Usar sensações para extrapolar a eficiência publicitária é o mesmo que os sofistas faziam na época de Sócrates: fazer uma linha de pensamento capciosa parecer verdadeira, crível, real. Percebe que usar sensações é forjar uma ligação sentimental que não existe? Pior é usar essa fraqueza da psicologia (e da neurologia) humana para vender?!
Cuidado para quando sua televisão - e outras mídias - reproduzirem cheiros. Se enquanto estamos vendo, já somos iludidos, imagine quando puderem enganar nossos outros quatro sentidos.