terça-feira, 29 de março de 2011

Sofismo Sensorial


Sou da opinião que o capitalismo não é fútil (muito pelo contrário). Existem particularidades do capitalismo que são fúteis. Por exemplo: a publicidade.

Veja que a publicidade é a ferramenta do marketing (ou vice-versa; não importa para minha linha de argumentos neste instante) que leva a imagem de um produto aos consumidores. Também serve como reforço de marca, mas principalmente para apresentar alguma coisa. O interessante é que a publicidade não pode ser enganosa, prometer algo que o produto não pode fazer; no entanto, se você analisar bem, (quase) toda publicidade é enganosa, pois, embora não possam exagerar as capacidades do produto, exageram em certas qualidades, como por exemplo, fazer você pensar que, ao usar determinado creme você vai perder vinte anos de rugas e parecer uma adolescente. Claro que o anunciante pode afirmar uma coisa dessas, mas é mais ou menos essa a idéia que ele quer que você tenha. Ou ainda, quando criam uma campanha que “inclua” você na “família” da empresa ou "como parte fundamental” da empresa, estão também mentindo, porque, afinal, a menos que a sua carteira de trabalho seja assinada pelo RH deles, você é apenas mais um consumidor; e a empresa quer que você pense que você é algo maior do que não é.

A publicidade é essa terra de fantasia, essa Disney World que ilude você para a realidade do consumo. E pra isso já usou e ainda usa diversos recursos. Alguns bons, outros ruins. Mas todos em favor da ilusão do consumo.

E mais um nessa lista de recursos para te enganar caro consumidor, estão surgindo as agências especializadas numa coisa conhecida como “marketing de sensações”. O que é isso? O verdadeiro motivo do meu post?

“Marketing de sensações” ou qualquer outro nome parecido são ações publicitárias focalizadas em associar uma marca a uma sensação física sensorial (olfato, paladar, audição e tato). É uma das maiores sacadas da publicidade nos últimos tempos pois essas reações sensoriais se ligam muito fortemente às memórias que formamos e guardamos ao longo da vida. Por exemplo, a memória olfativa é a mais poderosa dos nossos cinco sentidos, é capaz de recuperar lembranças com mais facilidade do que os outros. É o que acontece por exemplo, quando você sente cheiro de torta de maçã, por exemplo, e se lembra da sua infância na casa da sua avô que fazia sempre a melhor torta de maça que você já comeu.

Desse modo, ao associar alguma memória sensorial sua à uma marca, quando você experimentar aquela sensação outra vez, vai lembrar quase que imediatamente da marca, não importa onde esteja - partindo do pressuposto óbvio de que vão usar boas sensações…

Meu problema com isso? Usar sensações para extrapolar a eficiência publicitária é o mesmo que os sofistas faziam na época de Sócrates: fazer uma linha de pensamento capciosa parecer verdadeira, crível, real. Percebe que usar sensações é forjar uma ligação sentimental que não existe? Pior é usar essa fraqueza da psicologia (e da neurologia) humana para vender?!

Cuidado para quando sua televisão - e outras mídias - reproduzirem cheiros. Se enquanto estamos vendo, já somos iludidos, imagine quando puderem enganar nossos outros quatro sentidos.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Ficha Limpa Suja

sujeira na praia

Foi votado ontem, no Supremo Tribunal Federal, o completo descaso com a sociedade brasileira. O Ministro do STF, Luiz Fux desempatou a votação que decidiria se o Ficha Limpa seria válido para as eleições passadas e, assim, invalidar candidaturas de políticos condenados por… enfim, o que quer que tenham feito de errado.

Porém, todavia, entretanto, Vossa Excelência Fux preferiu cumprir com seu dever a politicagem brasileira, ao invés de cumprir seu dever para com o Brasil. Políticos corruptos que perderam cargos pelo impasse do Ficha Limpa, agora poderão ocupar seus cargos de “direito”.

A justificava do Excelentíssimo Fux é razoável: segundo a constituição, não se pode mudar nenhuma lei eleitoral a menos de um ano para as eleições. Não se pode mudar as regras do jogo, depois que o jogo começou; em resumo, é isso que ele diz. Nada mais justo. Aprovar o Ficha Limpa em condições “desleais” igualaria o esforço nobre de limpar a política brasileira aos corruptos que ela pretende condenar. Pior: seria uma ação “totalitária”.

Ok. Mas alguém, inclusive o Excelentíssimo Fux, considerou que nossa política é a mais decadente da história? Que as regras escritas na chamada Constituição favorecem, protegem, não a população explorada por incontáveis casos de corrupção. Que as leis foram arquitetadas de modo a proteger os políticos corruptos. Inconstitucional é o ser que usa da máquina pública, do dinheiro público, da democracia para favorecer apenas a si próprio. Inconstitucional é permitir que se pratique a má política.

Dizem que não se pode combater fogo com fogo. Mas também não se pode deixar que tudo queime.

domingo, 20 de março de 2011

Da Anarquia

anarquia

Outro dia me perguntaram qual era a minha orientação política. De direita ou esquerda. Respondi: nenhum dos dois. Na verdade, como última instância, sou de centro-direita. Mas minha verdadeira afinidade é com o Anarquismo.

Pra começar, vamos esclarecer algumas coisas: Anarquismo não é o caos ou a desordem generalizada. O termo anarquismo e suas derivações lingüísticas foram deturpadas ao longo do tempo pelos moralistas que queriam impedir a ascensão de ideologias políticas contrárias à ordem vigente, ou seja, eram contra o socialismo e o anarquismo, que, para alguns, eram a mesma coisa: artifícios do mal para levar a sociedade à decadência e à barbárie. Bem, hoje, sabemos que socialista não come (ou comia) criancinha, mas parece haver ainda certo estigma sobre o anarquismo. E parte desse estigma foi reforçado pelos próprios ditos anarquistas.

A anarquia não tem nada a ver com violência desordem, caos, agressão e outros sinônimos que você pode achar por aí. Anarquia é uma ideologia, politica que “prega” a não-hierarquização da sociedade, a ausência de estruturas de governo que sejam impostas. Em termos simples: sem chefes, sem caciques, pajés, patrões, generais, faraós, xerifes, xeiques, presidentes, ministros nem nada disso. Sem Estado, sem líderes. A população seria, então, livre para se governar.

A associação da anarquia com o caos vem da óbvia conclusão de que pessoas se tornariam um bando de animais selvagens matando uns aos outros, roubando uns dos outros e por aí vai, caso não sejam liderados por algum tipo de governo central. Bem, é difícil negar que esse cenário é provavelmente o mais provável. Mas, me arriscando a colocar fé de mais na boa vontade humana, será que esse Caos se estenderia indefinidamente. Será mesmo que sem um “líder” (leia-se: estrutura de governo) viveríamos esse estado auto-destrutivo?

A resposta de um leigo em dinâmica social?… Não. Aliás, as teorias anarquistas também não. Nós somos programados- biologicamente - para a auto-preservação, inclusive enquanto sociedade. Claro que mataríamos uns aos outros por um período de tempo, mas, eventualmente, encontraríamos um equilíbrio, com o tempo, nos auto-organizaríamos.

NO entanto, vivemos uma programação ainda mais forte: aquela que nos faz acreditar no “uns mandam, outros obedecem”. A hierarquização da sociedade é mais do que um sistema imposto, é um fator cultural entranhado em nossas concepções. O que torna quase difícil - se não impossível - de, sequer, cogitar a hipótese de um mundo livre de governantes. Para não mencionar a atribuição - talvez equivocada - de privilégios e status a quem ocupa algum tipo de cargo de liderança. Um comportamento também cultural. Quem não quer poder, não é mesmo?

Desde ponto de vista, a anarquia, um mundo sem superiores ou inferiores, é uma utopia, um mundo perfeito além do que se pode alcançar. Sim! Infelizmente. Mas imagine por um segundo, um mundo me que não existe política e, assim, políticos, eleição, impostos, corrupção, cargos públicos…

Só “liberdade”…

terça-feira, 15 de março de 2011

Chernobyl, Parte II

caos

Acho que um terremoto nunca causou tanta destruição num país, como o deste último final de semana que atingiu o Japão. Além do violento tremor de 9 graus na escala Richter, tsunamis de 10 metros e, a cereja em cima da cereja no topo desse maquiavélico sundae de destruição, uma usina nuclear vazando radioatividade e prestes a explodir. Esse foi o pior acidente envolvendo energia nuclear desde Chernobyl.

Claro que essa tragédia no Japão faz necessária a discussão sobre as melhorias das instalações das usinas de energia atômica, quais medidas são necessárias para garantir a segurança e saúde da população. Mas é preciso repensar a paranóia que se apossou da comunidade internacional depois que a central nuclear de Fukushima entrou em colapso. A União Européia, os EUA e até a Índia estão freando seus programas nucleares depois da catástrofe japonesa. Acredito que o Brasil faria a mesma coisa se utilizasse energia nuclear com mais significância em sua matriz energética.

Não minimizando as proporções do acontecido ou o quão nocivo é a radioatividade para o corpo humano, há um certo exagero ao redor dessa questão. De novo, é preciso sim, discutir a implementação de medidas de segurança mais eficazes para usinas nucleares, mas também não se pode permitir um retrocesso baseado apenas no medo e na desinformação.

Num mundo em que obtenção energia é um problema constante, a matriz nuclear é uma das mais eficientes quando comparadas com outras, não só pela sua produtividade, também por outros aspectos. Embora seja a manifestação natural mais nociva à saúde do homem e ao meu ambiente, quando devidamente utilizada - ou seja, dentro de parâmetros de segurança - poluí menos e causa menos estragos à saúde do que o carvão por exemplo, que não possuí qualquer parâmetro de segurança que contenha seus danos. Em comparação com usinas hidroelétricas, a energia nuclear também ganha no quesito espaço. A área afetada pela construção de uma hidroelétrica é gigantesca, o impacto ambiental beira o catastrófico: desmatamento, represamento e redefinição de cursos de rios, que desencadeiam várias outras consequências. Contra a Eólica e Solar, bem… a geração de energia dessas duas matrizes ainda está a anos de ser viável para grandes populações como Brasil ou Japão.

É uma pena que um desastre como o do Japão incite uma paranóia nos governos do mundo todo. Uma paranóia que nasceu na Guerra Fria, com o medo da guerra nuclear e Chernobyl. Duas situações que não se aplicam mais ao mundo atual. Chernobyl foi um acidente fruto da ânsia da União Soviética em se mostrar mais poderosa para o mundo, e acabaram fazendo um trabalho mequetrefe. Fukushima foi vítima de uma fatalidade da natureza. Uma bem cruel. Todos nós estamos sujeitos a elas e se nos deixarmos levar pelo pânico, jamais conseguiremos atingir a evolução necessária para nos protegermos dela.


_________________________

ps.: os 15 minutos de fama de Kadifi acabaram depois do terremoto no Japão. Ou alguém ouviu falar nele depois desse fim de semana? Será que alguém vai se lembrar dos Dias de Fúria no Oriente Médio depois que a poeira abaixar?...

sexta-feira, 11 de março de 2011

Caça Às Bruxas

 

inquisicao3

Existem certos lugares em que a gente não deve meter o bedelho onde não é chamado. Às vezes porque o assunto realmente não é da nossa conta, outras, porque simplesmente não temos competência para tanto. Eu não me importo muito com nenhuma das duas.

O que quero falar hoje é sobre a decisão do congresso americano de investigar membros das comunidades mulçumanas sob sua bandeira como uma forma de impedir que a Al-Qaeda recrute membros para suas fileiras de homens-bomba. Percebem que numa sociedade já fragmentada e aterrorizada por um medo psicótico infundado, uma decisão como essa pode agravar ainda mais o abismo entre ocidentais e mulçumanos? O inimigo mulçumano nos Estados Unidos está sendo fabricado exatamente como inimigo ocidental foi fabricado no Oriente Médio, através da intolerância social - e aqui não cito apenas a religiosa, que persegue cristãos, judeus e até sub-grupos mulçumanos que são “minorias” nos países - tem as mesmas raízes que da intolerância que se instaura agora nos EUA.

Decisões como essa apenas sustentam e embasam o ódio que Aiatolás e Ahmadinejah tem contra o ocidente. “Olha, eles nos odeiam! Não nos respeitam! Não podemos respeitar os infiéis”, ou diriam alguma baboseira parecida para recrutar ainda mais homens-, mulheres-, crianças-bomba. Claro que os americanos precisam pensar em sua proteção, afinal de contas, o 11 de setembro realmente aconteceu; mas iniciativas políticas como a que o congresso americano propôs, correm o risco de apenas aumentar os atos de violência, que já não são poucos.

 

_____________________

ps.: ok, depois desse post você pode estar pensando “e daí?…“, não é mesmo?… É… é daí?…

terça-feira, 8 de março de 2011

Elas São Bamba

 

MulherFlor

8 de Março, dia Internacional da Mulher. Uma data para se comemorar as conquistas do tal “sexo frágil” ao longo do último século. Elas conseguiram o direito de votar, de trabalhar fora, de usar calças, de ficar por cima na cama. Conseguiram voz para lutar por um lugar ao sol, que antes só pertencia aos sacudos.

Mas isso é motivo para parar por aí? De certo que não. O machismo ainda é uma verdade na sociedade, a desigualdade entre os sexos, os estereótipos ultrapassados. Muito já foi feito, mas ainda há muito o que se fazer por elas.

 

___________

ANA CAROLINA - ELA É BAMBA

"Então vamo lá!:
Ana, Rita, Joana,
Iracema, Carolina"

Ela é bamba!

Ela é bamba!
Essa preta do pontal
Cinco filhos pequenos pra criar
Passa o dia no trampo pau a pau
E ainda arranja um tempinho pra sambar

Quando cai na avenida
Ela é demais
Todo mundo de olho
Ela nem aí
Fantasia bonita
Ela mesmo faz
Manda todas
Não erra a mira...

Mãe, passista, atleta
Manicure, diplomata
Dona da boutique
Enfermeira, acrobata...

(Bailábailá)
Bamba!
Ela é bamba!
Ela é bamba!
Ela é bambá!
(Bailábailá)
Bamba!
(Bailábailá)...hei hei heei!

Ela é bamba
Essa índia da central
Vai no ombro
Um cestinho com neném
Oito quilos de roupa no varal
Ainda vende cocada nesse trem

Toda sexta
Ela fica mais feliz
Vai dançar numa boate do Jaú
Faz um jeito
E já pensa que é atriz
Cada dia inventa um nome

Dora, Isaura, Emília
Terezinha e Marina
Ana, Rita, Joana
Iracema e Carolina...

Ela é bamba!

Dora, Isaura, Emília
Terezinha e Marina
Ana, Rita, Joana
Iracema e Carolina
Laura, Lígia, Luma
Lucineide, Luciana
Quer seu nome escrito
Numa letra bem bacana...

Ela é bala
A mestiça é todo gás
Cada braço é uma viga do país
Abre o olho com ela meu rapaz
Ela é quase tudo que se diz...

Quando compra uma briga
Ela é demais
Vai no groove
E não deixa desandar
Ela é pop, ela é rap
Ela é blues e jazz
E no samba é primeira linha...

"Vamo lá!:
Laura, Ligia, Luma
Lucineide, Luciana
Quer seu nome escrito
Numa letra bem bacana...
Ela é bamba!

sábado, 5 de março de 2011

Primeiro e Último

 

Gay_765197734_amor-7286_blog

Tenho pensado muito em você nesse dias. É uma saudade perversa, meio cruel com as memórias que guardo de nós dois. Memórias tão doces, de te olhar nos olhos, enquanto sua cabeça repousava em meu colo; olhos grandes, inocentes, como os de uma criança. E em pensar que era apenas a primeira vez que nos encontrávamos. Eu podia me reconhecer no seu olhar, e me sentir confortável, protegido. Era uma sensação inédita para alguém que nunca tinha experimentado a felicidade.

E, tão logo você chegou, você partiu. A despedida só me faz pensar que éramos tão criança, tão bobos. Dois garotos, parados ali no ponto de ônibus, eu olhando você partir, me perguntando quando e, mais importante, se o veria outra vez. Já sentia saudades, já sentia sua falta. Já me sentia incompleto. Nos veríamos outras vezes nos meses seguintes, sim. Os meses mais felizes da minha vida.

Mas, apesar da alegria implacável por amar você e de todos os planos e idéias que alimentava de ficarmos juntos, eu sabia que jamais conseguiria ficar com você para sempre. Era um misto de medo e premonição. E eu te disse isso, na noite em que passamos na minha cama, ouvindo música. “Você está saindo da minha vida, e parece que vai demorar. Se não souber voltar, ao menos mande notícias”. Você achou que eu estivesse louco, mas eu sabia que as coisas se encaixariam.

Você foi embora. Eu estava de mãos atadas. Queria pedir que não fosse embora, mas não podia. Tenho certeza que não funcionaria. Pensei que poderia ir atrás de você. É engraçado. O que uma criança como eu poderia fazer, indo atrás de você? E, olhando pra trás, hoje, eu sei que você não queria isso. Quando você me disse que não poderíamos ficar juntos, porque as circunstâncias eram complicadas demais, eu sabia que não haveria volta ou remédio. Eu planejava te ganhar, mesmo sabendo que já tinha te perdido. Eu perdi.

Hoje, eu sinto meu coração se contorcer, toda vez que penso: “será que ele ainda pensa em mim? Será que ele ainda lembra de mim?' Do que a gente viveu? Ou será que, depois de tanto tempo, ele se esqueceu?”

Eu lembro.

Contra todas as possibilidades, contra todas as amarguras, contra todas as derrotas e cicatrizes que colecionei desde que você partiu, as memórias de nós dois, na minha cama, na primeira vez que ficamos, ou o nosso passeio pela praça tomando sorvete, ou a primeira vez que vi seu corpo nu na escuridão… Essa são memórias imaculadas. Eu lembro.

Você foi meu primeiro amor. E será o último.

 

___________________________________

TÃO LONGE
Reação em Cadeia

Quando vi os teus olhos
Eu então acreditei
Pude entender tudo que você quis me dizer
Fui tão longe
Fui tão longe