Dercy Golçaves, um dinossauro contemporâneo, morreu aos 103 anos, em 208. Indiscutivelmente, uma looooooooooooooonga vida, bem acima de expectativa média de vida do Brasil, que gira em torno dos 60/70 anos. Ela viveu o dobro e mais um pouco, se comparármos a expectativa de nossos ancestrais.
10.000 anos atrás, os primeiros Homo sapiens não viviam muito mais do que 40 anos. E é muito fácil entender porque. Naquela época, em que comida não se comprava em supermercado, caçava-se na selva; essa história de "topo da cadeia alimentar" era pura babela, não havia Benegripe praquele resfriado chato, e não havia tratado de paz que desse jeito em dispustas territoriais (ok, isso não mudou muito de lá pra cá...) valia aquele ditato: pra morrer, basta estar vivo. E mesmo que você conseguisse passar da vida adulta, bem, ela acabava ao 40s, de velhice mesmo (sem tempo para a famosa crise da meia idade). E essa expectativa não mudou muito ao longo da história. Talvez tenha subido para algumas décadas apenas, depois que o homem aprendeu algumas coisinhas de medicina aqui, aprendeu a lidar com a natureza, passou a criar animais para o corte... enfim... depois que o Homo sapiens virou gente, passou a viver-se um pouco mais e melhor.
Mas só no último século que as coisas tem melhorado de verdade. Avanços esponenciais na ciência médica, com remédios quase miraculosos; disseminação de noções de higiênie (alguns bem hipocondríacos); e "total dominação das ameaças da natureza" (entenda-se: no more hunting), a vida dos humanos tem se prolongado bem mais do que aquelas 4 décadas iniciais que seu tatatatatatatatatatatatatatarávo tinha. Dercy é a prova.
E mesmo assim, com alguns aninhos acrescentados às contas, os humanos tem perseguido o raio da chamada vida eterna. Os alquimistas da era medieval procuravam a todo custa a "pedra filosofal" que produziria o suposto Elixir da Vida que daria, além do "toque de Midas" a capacidade de se viver para sempre. Os médicos têm prometido ainda mais. Alguns falam até em imortalidade com direito a juventude eterna. Possível? Claro, se alguém achar uma maneira de anular os efeitos dos radicais livres que são os vilões por trás do envelhecimento e da morte, poderemos, sim, viver para sempre.
Aí eu te pergunto... pra quê? Por que essa obcessão em se viver para sempre? Pra experimentar mais a vida? pra ter mais tempo pra concertar os erros, pra ter mais tempo pra dizer que ama alguem? Me engana que eu gosto né! Às pessoas já fazem m**** que não acaba mais com os miseros 70 anos que têm e ainda querem mais?! Talvez passe pela cabeças das pessoas que, se tiverem a oportunidade de viverem 200 anos, vão se aposentar aos 70 e viver os outros 130 na maciota. Doce ilusão, porque provavelmente você vai passar 170 trabalhando que nem burro pra poder aproveitar os próximos 30... E já parou pra pensar no pandemonio que viraria se parássemos de morrer? Hoje já somos 6,7 BILHÕES de pessoas no mundo, sem espaço nem recursos pra quase ninguém mais, numa expectativa de vida de 70 anos... imagina se formos imortais? Chegaríamos aos 10 Bi, lisinhos, sem rugas, sem comida, sem ar, sem água...
Estamos envaidecidos como Dorian Gray, o edonista inglês de Oscar Wilde que, encantado por si mesmo acaba entregando sua alma para que apenas seu retrato envelhecesse, enquanto ele próprio se tornaria imortal. No entanto, Dorian jamais poderia olhar para seu retrato outra vez... Talvez seja exatamente isso que queremos. Belos e sem auto-crítica, imortais para erramos quantas vezes for preciso, uma eternidade de uma vida sem fim e sem valor...
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ps.: Dorian Gray e Dercy Gonçalves (DG e DG... coincidência?...)