Só para parafrasear um conhecido nosso: "Nunca na história desse país" se viu uma eleição tão... estranha. A começar pela completa falta de oposição. Embora candidatos de partidos diferentes critiquem falhas administrativas um dos outros, o clima geral é sucintamente demonstrado no slogan "Para o Brasil continuar mudando", usado por Dilma Rousseff, candidata à presidência pelo PT (eu sei disso, você sabe disso e, a essa altura do campeonato, até o mais isolado dos sertanejos também sabe; mas como agora sou graduando em Comunicação Social, tenho que fazer o texto mais claro possível, mesmo que isso signifique recorrer ao óbvio e à redundância). Claro que para a presidenciável do PT, isso quer dizer a continuidade que seu mentor (ventriloquista) fez nos oito anos de governo. Para os outros candidatos (leia-se: Serra) essa filosofia de "continuar mudando" quer dizer, principalmente, não ofender ou, sequer, criticar com mais afinco o trabalho de Lula, não porque acham que ele foi um ótimo governante, mas porque seria um tiro pela culatra.
Outro ponto ainda mais estranho, embora não exatamente uma novidade no processo eleitoral brasileiro, é a teatralidade a la cabaret: elitista se passando por "Zé" e má-drasta por "mãe". Claro que descer ao nível da classe D abraçado pedreiro e beijando criancinha tentando disfarçar a cara de nojo já é estratégia batida e não se pode ensinar novos truques à cachorro velho... mas no caso de JOSÉ Serra, isso é um pouco demais. O "Zé" foi uma tentativa pífia de simular uma origem humilde - mas não pobre - e equipará-lo à Lula, para evitar o tiro ela culatra.
Ok. Nem tudo é trevas e destruição. Existe um raiozinho verde de esperança. Não para essa eleição; essa já está perdida, claro! No entanto, Marina Silva pode estar criando a nova aparêcia da política brasileira para os próximos anos. Não porque ela seja uma pessoa íntegra, idônea, séria - talvez até seja, mas, afinal, não ponho a mão no fogo por político nenhum -, mas porque ela tem tido "grande" popularidade entre os jovens, seja por sua imagem de defensora do meio ambiente - única coisa que ela conseguiu provar até agora -, que tem muito apelo junto aos baixinhos, seja por ela representar uma opção - jamais uma oposição - num cenário polarizado e apático. Infelizmente - para Marina Silva - as chances de vitória são menores que zero. Menores que 10%, na verdade. E mesmo que suas chances fossem até maiores, a única contribuição que ela poderia dar é justamente essa: o ponta-pé inicial na mudança tão necessária no eleitorado brasileiro para os próximos anos. Óbvio que isso é a mais pura conjectura (falar em especulação em época de eleição é sempre um perigo).
Por aí já se vê que crises de identidade são o principal problema desta eleição. Transferência de votos, falta de imposição, de personalidade, debates apáticos, ventriloquismo são tão prejudiciais para a democracia quanto a aparição corriqueira de Dossiês Escusos que costumam aparecer nessa época. É trocar seis por meia-dúzia. A Eleição deste ano é um Frankstein, um monstro, uma aberração. Sem opões viáveis, sem... opções. A dificuldade este ano não é em quem votar por qualidades ou defeitos; é simplesmente, em quem votar?...
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p.s.¹: não consegui encaixar no texto uma opinião minha que creio ser imprescindível, então, coloco-a neste adendo. Não pense que só porque os partidos de oposição estão dizendo que vão dar "continuidade" ao trabalho de Lula. Não se enganem. Não preciso nem entrar no mérito se ele foi ou não um bom governante; mas, como disse, quem ousar ser abertamente contra o que ele fez, estará cometendo suicídio político. Essa "simpatia" pelo trabalho do inimigo é puro marketing, afinal, estamos falando de eleições.
p.s.²: já reparou que, mesmo nas propagandas dos partidos elitistas, não se encontra um único classe média, ou mesmo classe média baixa... só dá povão?... Aí você poderia pensar: "Ok, a maior parte da população brasileira é pobre. Mas e o resto?..."
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Choices
[Mudvayne]
We don't have a choice, anymore, anyway
We don't have a voice, anymore anyway
There's no choice in freedom
There's no voice in freedom