
Começou agora a campanha em defesa da vida. Serra e Dilma, para não perderem votos do filão religioso que povoa a sociedade brasileira, decidiriam defender a vida, a família e os valores sagrados que fundamentam esses conceitos. Esse problema começou com o “factóide” espalhado na internet por algum acéfalo religioso que Dilma é (ou, pelo menos, era) a favor do aborto, que já tinha declarado pública e abertamente sua posição e que a candidata petista seria então uma bruxa malvada, o diabo de saia e que quem votasse nela estaria compactuando com um governo assassino. Enfim... os absurdos ditos eu não sei especificamente, mas é algo muito próximo a isso. Assim, para “exorcizá-la” e (re)conquistar a simpatia dos beatos e beatas, ela decidiu rever suas opiniões. Serra impulsionado pela ação da concorrente, está adotando a mesma linha de campanha, clamando para si uma certa aproximação de Marina Silva.
Interessante perceber que, num Estado Dito laico, essa interferência da opinião religiosa (sempre equivocada, baseada em nada mais do que ilusões) apenas atrase certos avanços sociais. Eu pessoalmente também sou contra o aborto, mas com argumentos racionais, como por exemplo: permitir o aborto seria permitir a irresponsabilidade de mulheres e adolescentes que preferem fazer uma cirurgia de alto risco a pagar 3 reais num pacote que vem com 3 camisinha! Preferem remediar do que prevenir! Se você deu sem camisinha, sem pílula, sem DIU, sem nada se achando a toda-poderosa, tem mais é que parir o rebento mesmo! Meus argumentos podem até não ser bem fundamentados, mas é melhor do que dizer “porque Deus acha que é um crime” ou outras retóricas religiosas! Argumentos que se baseiam no comportamento humano, no comportamento social, que sejam analisados do ponto de vista racional, deveriam fazer parte das decisões políticas e não uma bandeira com uma cruz dizendo que a vida, a família e a fé são valores importantes. São? Os dois primeiros são sem sombra de dúvida.
Ainda num Estado Dito Laico, que deveria respeitar todas as religiões e credos, como fica uma mulher grávida, que quer abortar e que não acredita em Deus? Por que ela deveria ser impedida de fazer o procedimento pelo credo (obtuso) dos outros? Num Estado Dito Laico o credo de uns impede o credo dos outros, a liberdade de se acreditar de alguns vira um impasse na vida de outros. A lei dos homens, criada pelos homens, redigida pelos homens e feita para os homens tem que se submeter à esquizofrenia escolhida de um grupo que ainda goza de certo poder nas esferas do poder.
Dar razão a esses grupos religiosos é apenas o começo. Claro que Dilma, um ser criado da noite para o dia da costela política de Lula, pode dizer umas mentiras aqui e outras ali, apenas para conseguir a simpatia das beatas e pastores e fazer algo completamente diferente quando sentar-se em seu trono, mas o simples fato de se dar ouvido a essa gente é um sinal perigoso de que ainda experimentaremos atrasos inexplicáveis e injustificáveis, abençoados por Deus. Porque, se depender dos Partidos Cristãos não será apenas a lei do aborto a cair; cairão também pesquisas com células tronco, os avanços nos direitos civis a homossexuais, arrisco a dizer até mesmo o voto feminino.
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p.s.: você, leitor que por ventura é religioso ortodoxo, que concorda que o aborto é um pecado abominado por Deus, e sem explicação nenhuma chegou até aqui, proponho-lhe pensar no seguinte: o Universo contém quantidades massivas de energia; somente o nosso Sol, que não é lá grandes coisas, tem mais poder do que milhares de bombas atômicas, imagine uma galáxia que tem milhões de bilhões de estrelas; agora imagine inúmeras galáxias vagando pelo Universo, correndo o risco de se chocarem umas com as outras, liberando energia suficiente para rasgar literalmente o tecido da própria realidade. Você realmente acha, SE existe mesmo um Deus - e não estou admitindo que exista - que um ser cósmico superior, que tem que gerenciar o movimento dessas quantidades massivas de energia vai realmente se importar com nossos atos mundanos que não fazem a menor diferença no Universo?!
Uma sociedade que se deixa comandar por pensamentos da Idade Média não pode, em hipótese alguma, se considerar uma sociedade em desenvolvimento e projeção internacional, como o Governo Brasileiro adora propagar. Uma sociedade que diz ter em deus e "nos valores cristãos" seus maiores bens é uma sociedade burra e ultrapassada.
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