quinta-feira, 7 de julho de 2011

Pelo Jornalismo (Mais) Opinativo




Existe, no jornalismo (o sério, pelo menos), a instrução “incontestável” da procura pela matéria objetiva e imparcial. Imparcial porque, há quem acredite, que a opinião expressa numa notícia poderia influenciar o consumidor daquela notícia (sei que “consumidor”, nesse contexto, é uma péssima palavra, ao mesmo tempo que não me passa mais nada na cabeça, dentro de mesmo contexto). Fato é que muita gente realmente não tem inteligência para discernir a subjetividade nas linhas dos jornais, mas a culpa disso é de quem?… Continuando…

Na minha opinião, a primeira premissa errada dessa “teoria” é que é impossível para uma ser humano - que, afinal, é quem produz as notícias (“produz” também é uma péssima palavra no contexto, mas dificilmente há outra mais apropriada) - dissociar sua opinião sobre um acontecimento na hora de redigi-lo para as redações. Na lingüística, a própria escolha de palavras, na hora de montar uma frase, é uma marca de subjetividade. Ou seja, ser imparcial é uma batalha perdida logo no começo.

Segundo - e de novo, na minha opinião - a realidade não muda de espectador para espectador; a realidade é imutável - alguns filósofos vão, com certeza discordar de mim. O que varia de pessoa pra pessoa é a interpretação que se faz daquela realidade, interpretação essa sujeita às experiências individuais.

Faço, agora, uma curva na minha teoria, para depois arrematá-la.

Vivemos um mundo conectado, em que é fácil enviar e-mails e mensagens pelo espaço quase instantaneamente. Na prática, qualquer jornal pode cobrir qualquer evento em qualquer lugar do mundo; basta ter um acordo com agencias de notícias ao redor do globo e pode, então, retransmitir os boletins localmente. No entanto, a facilidade tecnológica facilita a burrice tecnológica. Por quê? Agora, não falo apenas como um graduando em jornalismo, mas também como um consumidor (vide acima) dos principais portais de notícia do Brasil: é lamentável visitar diferentes sites de notícia e encontrar as MESMAS matérias! Não estou falando das mesmas pautas. Falo de encontrar a MESMAS matérias, com as mesmas palavras, os mesmo títulos, as mesmas citações e, às vezes, os mesmos erros! O ctrl+c/ctrl+v é o verdadeiro desserviço à prática jornalística no mundo digital!

No entanto, esse desserviço é sustentado pela imutabilidade da realidade que nos cerca - se um fato é invariável, a matéria sobre esse fato também não precisa variar. Isso empobrece os jornais, transformando-os em meros retransmissores. Para isso, não precisamos de jornais, basta assinar feeds de notícias internet a fora.

Uma postura menos imparcial, com inferências opinativas mais expressivas nos corpos das matérias, ao invés de relegá-las às colunas de análises e editoriais, transformaria esse panorama seco e, nos casos de ctrl+c/ctrl+v, medíocres do jornalismo.

É preciso lembrar que, ao contrário do que Sócrates poderia dizer, opiniões não diminuem a veracidade de um fato, quando ele é apurado com seriedade, ética e profissionalismo. É mais honesto com o leitor ou espectador assumir posturas parciais mais nítidas, além de contribuir para algo que anda escasso na massa que é a discussão do que acontece no mundo. E é impossível levantar discussões sem ter opiniões ou, no mínimo, argumentos; e ambos fogem ao alcance dessa linha “objetiva e imparcial” de fazer jornalismo.

A única coisa que não pode mudar é o compromisso com a verdade.

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Raul Seixas - Metamorfose Ambulante
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

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