sábado, 20 de agosto de 2011

A Verdade Por Trás das “Verdades”

sofism

Entendo que seja obrigação moral de todo e qualquer jornalista (ou pretenso) destrinchar a verdade por trás das “verdades”. A vida é assim mesmo, camadas de verdades, umas sobre as outras, principalmente quando se trata de ideologias - na minha opinião, ideologias expressas em palavras são meias-mentiras e meias-verdades quando ideologia é usada como doutrinação, já chegou a ser mentira-e-meia.

Pois bem…

O problema de se ser uma pessoa atenta às notícias é que às vezes você chega a materiais deploráveis. Hoje, navegando por aí encontrei esta notícia: “Silas Malafaia: ‘Governante vai ter de dizer em que acredita’”. Não que seja fã deste sujeito. “Mantenha seus amigos perto, seus inimigos mais perto ainda” é um dos ditados mais verdadeiros que já chegou aos meus ouvidos. É, claro, um inimigo metafórico, pois presta um desserviço, não só à minha classe, mas à sociedade de uma maneira geral. Mas como ninguém nota que a bússola moral da religião está torta à uns vinte séculos, o que ele diz deve ser trazido á luz da razão e tirado do obscurantismo tacanho que infesta esse tipo de discurso.

A matéria é, na verdade uma entrevista com Malafaia, sobre os pontos mais espinhosos que atualmente ronda a pauta evangélica: política e homossexualidade (coloquei em negrito para que fique claro que homossexualismo não é mais um termo aceito pelo Conselho Federal de Psicologia, pois não constitui nenhum tipo doença ou perversão. Fato vonluntariamente ignorado por Malafaia, porque, dizem, é psicólogo e deveria saber. Mas o que não é a religião se não a escolha voluntária pela ignorância?). Destacarei alguns pontos importantes para os propósitos desse post:

ÉPOCA – O que é, em sua opinião, a homossexualidade?
Malafaia –
O homossexualismo é comportamental. Uma pessoa é homem ou mulher por determinação genética, e homossexual por preferência apreendida ou imposta. É um comportamento. Ninguém nasce homossexual. Não existe ordem cromossômica homossexual, não existem genes homossexuais. O cromossomo de um homem hétero e de um homem homossexual é a mesma coisa. O resto é falácia, é blá-blá-blá. Só existe macho e fêmea, meu amigo.

Nada no comportamento humano é 100% comportamental ou 100% genético. O comportamento humano é uma confluência dos dois: ambiente e genética. Sim, homens héteros e homens gays possuem os mesmo cromossomos XY, mas se prestasse mais atenção em biologia, ao invés de se preocupar com sofismos contaminados, perceberia que os cromossomos sexuais determinam apenas o sexo - aparelho genital e características primárias e secundárias - do indivíduo e não seu comportamento sexual como um todo. No caso da homossexualidade, ainda há teorias que consideram o período embrionário como uma etapa importante do desenvolvimento sexual. E se fosse puramente comportamental, como ele explica o surgimento de homossexuais em famílias de indivíduos hétero?…

ÉPOCA – Por que o comportamento homossexual se desenvolve?
Malafaia –
A Bíblia diz que, aos homens que não se importaram em ter conhecimento de Deus, Ele os entregou um sentimento perverso para fazerem coisas que não convêm. Do ponto de vista comportamental, é promiscuidade mesmo, meu amigo. O ser humano quer quebrar todos os limites. Quanto mais ele quebra limites, mais insaciável se torna. Ninguém nasce homossexual. É a promiscuidade do ser humano.

Nessa ele me perdeu quando disse “a bíblia”; para citar o próprio: “é falácia, é blá-blá-blá”. Impossível argumentar com dogmas… Mas sim, o ser humano é promíscuo. Se não fosse não haveria raça humana. Todos são promíscuos, homossexuais e heterossexuais. Alguns só são hipócritas demais pra admitir que pensam em sexo 24h por dia. (Pequeno parênteses. “A bíblia” diz: “crescei-vos e mutiplicaí-vos”. Isso é ou não é um convite à promiscuidade?…)

ÉPOCA – É possível alguém deixar de ser homossexual?
Malafaia –
Nossa igreja está cheia de gente que era homossexual. O cara não nasceu (homossexual). Se não nasceu, amigo... Ninguém nasce homossexual. É uma opção, por uma série de elementos: ou porque foi violentado, ou porque escolheu por modelo de imitação. O ser humano vive por modelo de imitação.

ÉPOCA – E como se dá essa reversão?
Malafaia –
Meu filho, essa reversão é o cara voltar a ser macho e a mulher voltar a ser fêmea. Dar forças para o cara vencer isso. Acredito no poder do Evangelho para transformar qualquer pessoa, inclusive homossexuais.

Esse era o objetivo principal do post de hoje: as terapias de conversão.

Malafaia defende que é possível alguém deixar de ser homossexual. O mito do “ex-gay”. Este, talvez, seja o único ponto em que concorde com esse senhor: sim, é possível reduzir ou eliminar o comportamento homossexual, porque afinal, é um comportamento… embora tenha sinceras dúvidas de que vá reduzir ou eliminar a natureza homossexual. Malafaia ainda acredita (ou deve acreditar)que é um direito do indivíduo procurar terapias para se livrar do “fabulous” que há nele. Porém, a lei não permite essas terapias e é fortemente repudiada por conselhos de psicologia, porque, como disse, não vêem a homossexualidade como uma doença, logo, não necessita terapias.

Por mais absurdo que possa parecer, eu concordo com Malafaia mais uma vez! Deveria haver serviços (por falta de uma palavra melhor) que possibilitassem essa “mudança de hábito”, afinal, as pessoas têm que ser livres para serem o que quiserem. E se a condição de homossexual o desagrada, porque não haveria de ter terapias. Pessoas com TOC procuram terapias… com manias. Tímidos procuram terapeutas para desenvolverem suas habilidades sociais…

NO ENTANTO (ênfase no “no entanto”), o que passa pela minha cabeça e o que não passa pela cabeça do Malafaia e todos a quem ele simbolicamente representa é: o que leva uma pessoa a querer deixar de ser gay? Malafaia e seus representados poderiam dizer algo do tipo: “porque a presença divina que há no indivíduo reconhece a impureza e o pecado de seus atos”. Bem… isso “é falácia, é blá-blá-blá”. Alguns mais sensatos (ou menos ignorantes), ou até os próprios gays poderiam dizer: “ser homossexual é angustiante, por causa de todo preconceito, de toda violência. Do medo de ser excluído, medo de ser deixado de lado por parentes e amigos. Ser homossexual é angustiante.”

Aí está a resposta. Ninguém quer deixar de ser gay por causa de uma certeza intrínseca e natural da “anti-naturalidade” de ser gay (e não é!). As terapias de conversão seriam a “saída de emergência” daqueles que tem medo de enfrentar a sociedade ao redor, porque ela lhe será hostil por conta única e exclusivamente de sua homossexualidade. Não é uma escolha livre do ser humano suprimir sua expressão sexual, ela é suprimida por agente externos, pelo medo da repressão, da “vingança divina”.

Num ambiente (ainda muito) preconceituoso como o nosso, como um indivíduo poderia tomar a livre decisão de deixar de ser gay? Resposta: não, não dá!

Quando houver um cenário livre de preconceitos e discriminação, eu apoiarei as terapias de conversão. Até lá, usarei meu intelecto para destrinchar as verdades ideológicas da obsolescência.

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ps.: desculpem pelo texto longo… eu mesmo quase parei de escrevê-lo umas cinco veze…

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"Posso não concordar com nenhuma de tuas palavras,
mas morrerei defendendo o teu direito de dizê-las."
Voltaire

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