sábado, 9 de abril de 2011

Compactuando Com A Culpa




O desejo de justiça da sociedade é perfeitamente compreensível, ao mesmo passo em quem é completamente irracional. No caso do Tiroteio em Realengo, a imprensa procurou os parentes das vítimas para entrevistas, desdobraram o perfil psicológico da criatura que cometeu a atrocidade, entrevistou “amigos” sobre o comportamento dele. A casa em que morou Wellington Menezes de Oliveira foi apedrejada. A polícia rastreia, prende e apresenta os homens que venderam a arma ao psicopata - com eficiência exemplar, mas também restrita a episódios espetaculares. “Se eu soubesse que era para fazer isso, jamais teria feito o que eu fiz. Agora, infelizmente vou ter que pagar”, disse um deles.

E ele foi provavelmente sincero ao fazer essa declaração; talvez, se soubesse que as armas seriam usadas para massacrar crianças numa escola, não as teria vendido. Mas as vendeu e deveria ter antecipado que para coisa boa não serviriam, afinal, não é essa sua finalidade.

Por outro lado, foi absolutamente preciso ao dizer que “agora vai ter que pagar”. O problema é que seu crime foi mais do que vender uma arma ilegalmente. Para a sociedade, para a mídia e, por consequência, para a Justiça, eles serão os “culpados” pelo massacre tanto quanto o atirador, já que ele - espertamente - se matou. Na ausência de um Judas para queimar na fogueira, as pessoas vão aceitar praticamente qualquer um.

Os homens têm culpa? Claro que sim! Mas deveriam ser sacrificados pelo “bem da moral da polícia e da paz de consciência da sociedade”? Pela lógica, não deveríamos ir atrás dos culpados indiretos pela tragédia? A família que cuidou (ou negligenciou o jovem); dos vizinhos que reconheciam seu comportamento estranho, mas não se metiam; dos ex-alunos de classe de Wellington que o caçoaram e possivelmente o abusaram na escola? Por que não culpar a sociedade no qual este monstro - assim como outros tantos - foi gestado, nascido e criado? Essa sociedade que fará de tudo para encontrar um rosto qualquer e, assim, se isentar da culpa pela morte de 12 crianças, as únicas realmente inocentes nessa trágica história.

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p.s.: Não defendo em momento algum o que Wellington fez, nem diminuo sua culpa. Muito pelo contrário! Acho, inclusive, que ter se matado foi uma sentença até muito generosa para tamanha maldade. Apenas acho que é injusto procurar culpa em apenas alguns nomes ou rostos de seu “circulo social”, apenas para saciar a fome de justiça e ordem da população. Se é para apontar o dedo para aqueles que indiretamente foram responsáveis pela maldade, então, temos que olhar para além da hipocrisia social e apontar o dedo para TODOS os indiretamente responsáveis, e não apenas alguns. Ao contrário do que estão fazendo você acreditar, monstros como Wellington, cheios de motivos insanos, não nascem prontos para a maldade; sim, eles nascem com certos requisitos, mas a sociedade os aperfeiçoa para a loucura.

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