domingo, 17 de abril de 2011

Medo

 

Fui ao chão. Me fechei em posição fetal; tão primitivo quanto o instinto e os sentimentos que então me consumiam. Além da dor excruciante. Tudo que via eram relances prateados, sombrios, que me atingiam com força cruel e impiedosa; havia também rostos difusos que insistiam em me encarar com aquela máscara de ódio e desprezo, enquanto gritavam, rosnavam e berravam palavras como:

- Morre, viado!

- Não gosta de pau, sua bicha! Então, toma! - nesse momento senti um bastão de beisebol esfarelar minhas costelas. O ar me escapou, enquanto a dor me atingia. O gosto de sangue enchia minha boca e escorria pela garganta; sentia-o escorrendo pelo rosto, vertido da pele cortada; misturava-se com minhas lágrimas de dor e desespero.

Ali caído e acuado por forças maiores que a minha, tudo que podia fazer era tentar me proteger. Não era um ato racional. Encolhi-me o máximo possível, tentando proteger meu peito e cabeça. Sabia que, assim que desistisse deles, seria o meu fim. Sabia também que não tardaria para que a implacabilidade daquele ódio desmedido me derrotasse.

Sempre temi que fosse passar por este horror. Acho que uma hora todos nós pensamos nisso em algum ponto da vida. O ponto em que suas escolhas confrontam a ignorância asquerosa dos outros. O ponto que você fica face a face, frente a frente com a verdade que se tentar negar. Uma verdade simples e vil: Os homens são feitos do ódio. As vítimas são feitas do medo.

A dor é um reflexo ingrato. Um coturno com ponta de aço acertou minhas costas. A dor, um reflexo ingrato, me fez soltar os braços e me arquear para trás, gemendo com as poucas energias que ainda me restavam. Percebi , tarde demais, o meu erro.

Outro flash prateado iluminou-se na minha frente, segundos antes de me acertar em cheio no rosto, esfarelando meus dentes, abrindo fendas enormes na minha boca, afogando-me em meu próprio sangue.

A consciência se afastava de mim. Podia senti-la escorregando para longe, como meu sangue que tingia o asfalto.

Aquela seria a única benção de Deus para mim; Sua única demonstração de piedade, em meio ao horror causado em Seu nome e Sua honra: morrer sob a escuridão acolhedora do desmaio.

Mais uma vítima da ignorância dos homens.

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