
Existe uma passagem interessante no livro “Anjos e Demônios”, de Dan Brown (como se você realmente precisasse dessa informação), que me chamou muito a atenção quando a li, e hoje ainda me é perturbadora.
Nela, o Camerlengo do Papa, andando pelos lúdicos ambientes da Cidade do Vaticano é questionado por um guarda que o acompanhava, por que Deus permite que os homens, sua maior e melhor criação, se matem e se submetam a tanto sofrimento sem intervir com seus poderes infinitos. “Se Ele nos ama, Ele também deveria evitar nossas dores?” O Camerlengo responde, pacificamente, fazendo uma analogia. Pergunta ao guarda se este tem filhos e se os ama. O homem lhe responde que sim e que faria de tudo para evitar que sofressem. Então, o religioso lhe faz uma nova questão: se proibiria seu filho de skate. O guarda responde que não, pois para aprender a ser cuidadoso o filho teria que cair e se machucar. Assim, o Camerlengo faz sua argumentação, dizendo que Deus faz a mesma coisa: Ele deixa que nos machuquemos para que possamos a aprender “nossas próprias lições”, apesar de Seu amor.
É uma linda imagem, uma linda comparação, ou alegoria. Chame do que quiser.
Já vi esse argumento outras vezes, antes de ter lido o livro e sei que é um dos argumentos favoritos dos religiosos para justificar a omissão de (um suposto) Deus diante de tantas atrocidades nascidas da natureza humana: fome, miséria, violência, guerras, poluição.
No entanto é uma analogia covarde, se não ignorante. Se eu fosse pai - espero que nunca compadeça desse mal - certamente não mimaria o garoto e o impediria de andar de skate para que não se machucasse; mas é outra coisa completamente diferente permitir que ele mate outra pessoa, na vã esperança de que ele compreenda … sei lá… compaixão.
Não questiono o argumento leviano do Camerlengo (ou pelo menos só ele). Questiono todo o conceito de uma “Onipotência Benevolente” que permite que suas criações tão “amadas” se matem e destruam sem intervir, sem mostrar o rosto, sem mandar um raio fulminante sobre todos nós e dizer: “EI! PAREM JÁ COM ESTA P#@$%&!!!”.
Se meus argumentos não refutam a existência de (qualquer) Deus, espero, no mínimo, que os faça pensar: Deus pode não ser tão bonzinho ou tão esperto quanto padres, Camelengos e pastores fazem você achar. Se Ele existe e permite que tantas barbaridades aconteçam, estaríamos melhor sem ele.
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